Assunto cada vez mais abordado na sociedade, a depressão é o tema central de uma recente série de TV da Netflix chamada “13 Reasons Why” (“Os 13 porquês”, em português). Na trama, a doença, considerada o mal do século, é tratada especificamente no universo adolescente e se relaciona com outras problemáticas desta faixa etária, como bullying, estupro, assédio e violência.
Sintomas da depressão e risco de suicídio
“Um episódio depressivo em adolescentes pode ser caracterizado pela persistência de tristeza debilitante, anedonia, que é a incapacidade de sentir prazer, e/ou irritabilidade sem melhora ao realizar atividades ou interações prazerosas. Mudanças de apetite, no peso e no padrão de sono, diminuição da energia, sentimentos de inutilidade ou culpa e dificuldades para pensar ou se concentrar são outros sintomas”, explica a psiquiatra Ana Cláudia Ducati.
Nos casos mais graves, o adolescente pode ter pensamentos de morte, chegando à ideação, planos e até tentativas de suicídio, exatamente como ocorre na série com a protagonista Hannah Baker (Katherine Langford). Este risco deixa evidente que o problema deve ser levado muito a sério. Depressão não é apenas tristeza, como muitas pessoas pensam. “A depressão, apesar de muito frequente na população, ainda é vista de maneira bastante preconceituosa por leigos, que não a entendem como uma doença”, acrescenta a profissional.
Importância da ajuda dos pais após os primeiros sinais da depressão
É necessário que se compreenda que a depressão é uma doença e não uma culpa ou preguiça do paciente. Nesse sentido, é essencial que pais e professores aprendam a reconhecer e monitorizar os sintomas depressivos, pois assim se torna possível avaliar a eficácia do tratamento e detectar recaídas precocemente. “É interessante que pais e professores elaborem junto com um médico planos e estratégias que sejam úteis no acompanhamento dos jovens”.
O ideal é buscar ajuda assim que os primeiros sinais aparecerem. Ignorá-los da maneira que a protagonista faz na produção, preferindo o isolamento, apenas diminuem as chances do tratamento ter sucesso. “Para que o diagnóstico de depressão seja feito, os adolescentes precisam apresentar uma mudança de humor que represente um comprometimento funcional (como queda do desempenho escolar, retração e isolamento social) por pelo menos duas semanas, durante quase todos os dias”.
Tipos de tratamento para depressão
“Muitos pacientes com depressão leve respondem a medidas simples, como mudanças de estilo de vida e psico-educação. Para casos de depressão moderada e grave, os tratamentos baseados em evidências incluem medicações antidepressivas, terapia (terapia congnitivo-comportamental e psicoterapia interpessoal), meditação e combinação de medicação e psicoterapia”, informa a psiquiatra.
Existem diversos fatores de risco para o surgimento de quadros depressivos em jovens. Abuso físico e sexual; negligência e violência doméstica; bullying e preconceito com a opção sexual são alguns dos mais comuns. Como são temas delicados, muitos jovens acabam se isolando quando os sofrem ou os reproduzem, assim como a série retrata. Por isso é importante que eles sejam debatidos nas escolas e dentro de casa. “As discussões podem ajudar de maneira significativa tanto os adolescentes, como pais e professores”.
Dra Ana Claudia Ducati Dabronzo é psiquiatra geral e da infância e adolescência, formada pela Universidade de São Paulo (USP). CRM: 150.562
Foto: Reprodução/Netflix