Recentemente um microrganismo mudou a vida de todos. Um novo vírus, da família do coronavírus, tem se disseminado por todo o mundo, e gerado grande preocupação, levando a Organização Mundial de Saúde a decretar que vivemos uma pandemia. Mas seriam os microrganismos necessariamente ruins para nós?
Por anos e anos, considerou-se que os microrganismos eram sempre vilões a serem combatidos. Porém, é cada vez mais bem estabelecido o papel de um conjunto deles no bom funcionamento do nosso corpo. Nós chamamos de microbiota intestinal esse conjunto de microrganismos que vivem em nosso intestino. Trata-se de uma complexa e dinâmica comunidade que evoluiu conjuntamente com o ser humano por milênios, e que promove diversos benefícios na digestão, produção de nutrientes, proteção contra organismos potencialmente nocivos e regulação do sistema imune, por exemplo. O sistema imunológico ou sistema de defesa tem um papel vital na manutenção da saúde, promovendo um equilíbrio fino entre o reconhecimento e eliminação de ameaças, como os microrganismos nocivos invasores, e a tolerância àquilo que é próprio do ser humano ou que potencialmente não confere malefícios. Cada vez mais nós conhecemos a interação celular e molecular entre a nossa microbiota e esse sistema.
Mas como pode a nossa microbiota intestinal interagir com o sistema imunológico? As funções extra digestórias do intestino também tem sido cada vez mais discutidas. Hoje, o intestino é reconhecido como “nosso segundo cérebro” – além de ter um sistema nervoso próprio, que atua modulando o seu funcionamento, uma parte considerável dos neurotransmissores do nosso corpo, como a serotonina, é produzida no intestino. Além disso, o intestino é sabidamente o maior órgão imunológico do nosso corpo, onde há grande interação entre a microbiota e as células do sistema imune.
A microbiota intestinal tem grande diversidade, sendo individualmente modulada por vários fatores, ainda não completamente elucidados; dentre eles, estão a própria genética do indivíduo, via de parto (normal ou cesárea), idade, peso, fatores sócio econômicos (vida urbana ou rural, condições sanitárias), uso de medicamentos ou suplementos e dieta habitual. Embora haja grande variabilidade interindividual, sabe-se que há estados de equilíbrio dessa microbiota, chamados de eubiose, que se relacionam a saúde como um todo e ao bom funcionamento do sistema imune.
Dessa maneira, é possível entender que um desequilíbrio na microbiota ou nessa interação entre ela e o sistema imune podem resultar em uma susceptibilidade aumentada a infecções. Fica, então, a pergunta: é possível modular a sua microbiota buscando benefícios para a saúde? Embora saiba-se que a microbiota seja relativamente estável na vida adulta, algumas atitudes, como a alimentação saudável e diversa, o uso racional de antibióticos – respeitando a prescrição médica -, a prática de atividade física, a manutenção de peso adequado e a utilização de estratégias para a manipulação da microbiota, como a utilização de probióticos (que são microrganismos vivos que, administrados em quantidades corretas, promovem benefício a saúde) podem contribuir para o estabelecimento do equilíbrio da microbiota e estímulo ao sistema de defesa do nosso corpo.
Fontes:
https://www.nature.com/articles/d42859-019-00014-2
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3337124/
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6104162/