A extensão do ato de doar sangue é vasta, já que uma única bolsa de sangue ajuda até quatro pessoas. Todos os elementos sanguíneos – glóbulos vermelhos, plaquetas e plasma – são aproveitados em diversas situações, como múltiplas cirurgias decorrentes de acidentes ou não, transplantes de órgãos, quimioterapias, distúrbios da coagulação, anemias e queimaduras.
Ações e datas como o dia 14 de junho são de extrema relevância para sensibilizar a população sobre a possibilidade de salvar muitas vidas com um único ato.
Atualmente, 16 a cada mil habitantes são doadores de sangue no país. O percentual corresponde a 1,6% da população brasileira e está dentro dos parâmetros preconizados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que recomenda de 1% a 3% da população de cada país.
Entretanto, é fundamental que tenhamos um dado numérico melhor. O maior desafio enfrentado para elevar esta taxa é construir ações coordenadas que fomentem na população o hábito deste exercício de cidadania de maneira contínua. Afinal, há um consenso de que, mesmo dentro dos parâmetros da OMS, é importante promover e fortalecer mais estratégias que estimulem a doação de sangue para a manutenção dos estoques.
Pesquisadores continuam buscando descobrir os motivos e atributos que levam pessoas a doar sangue e encontram argumentos desde a dádiva e o altruísmo até agradecimento por já ter sido ajudado dessa mesma forma.
No caso de Aislan Feitosa, professor do ensino médio e fundamental e doador convicto desde os 18 anos, o que o motiva a manter uma rotina anual de três a quatro doações ao ano é a sensação de praticar o bem. Segundo ele, é um gesto tão simples e rápido, mas com proporções tão grandiosas para quem recebe que seria uma atitude irresponsável não a colocar em prática. Sua última doação, por exemplo, foi em 17 de abril para um aluno em tratamento contra um câncer, no Hospital Mário Covas, em São Bernardo do Campo, Grande São Paulo.
Segundo dados do Ministério da Saúde, o número de doações se manteve estável nos últimos anos. Porém, a necessidade de melhorar os estoques vem do fato de que há períodos de baixa, como férias, festas regionais, inverno e feriados prolongados. O que dirá, então, este período de isolamento social, durante a pandemia do novo coronavírus? Infelizmente, o cenário demanda grande atenção, pois houve uma redução de 30% a 40% nos estoques de sangue do país.
Para além da questão da pandemia, Aislan acredita em questões culturais: “Não passamos por grandes guerras e/ou períodos que demandaram grande mobilização social. A doação de sangue não é algo presente na rotina dos brasileiros. Quando doo sangue e posto em alguma rede social, a reação das pessoas é até desproporcional, sendo que deveria ser visto como algo corriqueiro. Também falta incentivo das empresas em se fazer cumprir a lei federal 1075/50*. Se houvesse maior rigor do poder público, mais trabalhadores e trabalhadoras se ofereceriam a doar sangue. Além de, claro, campanhas incentivando as doações”.
No caso do educador físico Rafael Negrão Riciopo, a questão de uma baixa adesão às doações, mesmo antes da pandemia, também perpassa por construções culturais e educacionais. Segundo ele, as ações e a sensibilização não são consolidadas na base, visto que, como qualquer hábito, se ele não for incutido na nossa formação de identidade e de caráter, dificilmente as difundiremos enquanto adultos. Ademais, é necessário que o ambiente corporativo contribua, incentivando os funcionários a realizarem este ato de cidadania.
Saiba como doar sangue!
A doação de sangue é segura, não havendo riscos para quem doa. Para receber os doadores, há 32 hemocentros que coordenam mais de 500 serviços de coleta distribuídos por todo o país. Confira e encontre o mais próximo: https://www.saude.gov.br/saude-de-a-z/doacao-de-sangue#onde-doar.
Em tempos de pandemia, todos esses serviços estão disponibilizando condições de lavagem de mãos, uso de antissépticos e acolhimento que minimizam a exposição a aglomerações de pessoas. Cuidados com a higienização das áreas, instrumentos e superfícies também têm sido intensificados pelos hemocentros. Faça sua parte e continue utilizando máscara e lavando as mãos.
* Em linhas gerais, é a lei que respalda legalmente o funcionário a doar sangue em dia de trabalho, sem desconto salarial ou penalidades.
Referências Bibliográficas
Ministério da Saúde. Dezesseis a cada mil brasileiros doam sangue. Acessado no dia 8 de junho de 2020. Disponível em: https://a.cpv.digital/doador
Ludwig, S. T., & Rodrigues, A. C. D. M. (2005). Doação de sangue: uma visão de marketing. Cadernos de Saúde Pública, 21, 932-939.