Segundo a Federação Internacional de Diabetes (FDI), a doença que afeta cerca de 400 milhões de pessoas no mundo é silenciosa e precisa de muita atenção. Caracterizada pela elevação da glicose no sangue (hiperglicemia), o diabetes é tem controle, mas para levar adiante um tratamento adequado precisa-se inicialmente considerar três fatores importantíssimos: alimentação apropriada, prática de atividade física e acompanhamento médico. Juntos eles têm o poder de trazer muitos benefícios e possibilitar uma vida plena.
Mas por que é importante trabalhar os três elementos em conjunto? Segundo o professor de endocrinologia e presidente da Associação Nacional de Atenção ao Diabetes (ANAD), Fadlo Freige Filho, o ponto de partida para a prevenção é manter o peso normal do indivíduo. “É importante ter uma alimentação mínima em carboidratos, já que eles são ricos em gordura e açúcar. Esses alimentos são muito fáceis de serem consumidos porque são mais baratos e rápidos de preparar. Já os mais saudáveis, como frutas, saladas e produtos diet, influenciam na disposição do indivíduo, facilitando a prática de exercícios. Por exemplo, ao fazer musculação, o músculo consome glicose, como um carro que precisa de combustível para se mover, e consequentemente diminui a glicemia. Tudo isso influencia na ativação da circulação das coronárias e dos pés”, explica o médico.
Acelerar o metabolismo faz mal?
O Diabetes está ligado diretamente ao excesso de peso, e a gordura traz malefícios que podem acarretar diversos problemas. Um dos erros mais frequentes por parte dos profissionais de saúde é achar que, para diminuir a quantidade exagerada de calorias do organismo do diabético, deve-se extrapolar nos exercícios. No entanto, de acordo com o especialista, acelerar o metabolismo é um erro crucial. “Comer uma fruta e logo mais dar uma corrida não necessariamente ajuda no controle do seu metabolismo. Para quem tem diabetes, a atividade física melhora o relacionamento das glicemias, mas isso vai depender do seu nível da doença. Claro que, se a glicemia estiver mais alta, a atividade física tem essa função de diminuí-la, mas não precisa exagerar na dose, tudo tem que ser programado e de forma regular”, comenta Dr. Fadlo.
Entrar em uma academia pode ser um ótimo investimento, pois ajuda a baixar o colesterol, produzir endorfina e aliviar as tensões do corpo. No entanto, alguns locais exageram na prática dos treinos com a intenção de diminuir a glicemia. “Não vou generalizar, mas alguns locais estão trabalhando de forma errada”, diz o presidente da ANAD. O personal trainer Marcos Vinícius concorda com a opinião do especialista e ressalta que a função dos profissionais de educação física é indicar o treino adequado para cada pessoa. “Infelizmente esse exagero acontece em alguns lugares, mas sempre prezo pelo melhor treinamento. No treino para diabéticos é preciso cuidar da alimentação pré e pós-treino, mas em questão de exercícios não tem muita diferença porque a gente precisa mensurar o nível de glicose no sangue”, comenta.
Independente das academias, o Dr. Fadlo recomenda a prática de exercícios regularmente: “30 minutos de caminhada por dia é ideal para qualquer pessoa, o resto tem que ser adequado para cada faixa etária e necessidade”.
Um alerta do especialista
De acordo com o Ministério da Saúde, cerca de 14 milhões de brasileiros têm diabetes, mas apenas metade sabe que tem a doença e a outra metade não leva adiante o tratamento correto. E o pior, a cada dia aparecem 500 novos casos. O endocrinologista Fadlo Freige Filho explica que a falta de simples cuidados com o corpo pode agravar a doença. “As pessoas não cuidam dos pés, usam sapatos apertados, chinelos ruins e no verão pisam na areia ou pedras quentes sem calçados. Tudo isso faz com que a cicatrização leve mais tempo”. Ele também alerta: “O Diabetes é uma doença sem sintomas aparentes, então as pessoas não lhe dão a devida importância. É preciso explicar à população que a doença que está ao seu lado, em sua família e seus amigos mais próximos”.
Tipos de Diabetes
DIABETES TIPO 1
Doença autoimune, geralmente diagnosticada na infância ou adolescência, causada pela falta de produção de insulina, o que leva ao acúmulo de glicose no sangue.
- Vontade frequente de urinar
- Boca seca
- Perda de peso sem causa aparente
DIABETES TIPO 2
Causada por fatores genéticos ou maus hábitos, como consumo exagerado de açúcar, sedentarismo ou obesidade.
- Sensação constante de sede
- Muita fome
- Vontade de urinar
- Dificuldade de cicatrização
- Visão turva
DIABETES GESTACIONAL
Surge durante a gravidez e pode ser diagnosticada num exame de glicose em jejum após 22 semanas de gestação.
- Ganho excessivo de peso na grávida ou no bebê
- Aumento exagerado do apetite
- Vontade frequente de urinar
- Visão turva
- Muita sede
- Infecções frequentes na bexiga, vagina ou pele
Se você identificar esses sintomas, procure um médico o mais rápido possível. Lembre-se: o Diabetes é uma doença silenciosa, então o primeiro passo para um tratamento adequado é estar ciente dela!
Diabetes tipo 2 não abalou a jornalista Beatriz Libonati
Com apenas 25 anos, Beatriz Libonati nunca imaginou passar por um tratamento de diabetes tão jovem. Há exatamente 1 ano a jornalista carioca descobriu a doença, após dar entrada no hospital em decorrência de fortes dores abdominais, sede excessiva e dificuldade para respirar. “Foi um choque. Não imaginava que iria ter um quadro tão grave de hiperglicemia. Os primeiros meses foram muito difíceis, tive uma recuperação lenta por conta do meu lado psicológico, que ficou abalado. Todos os dias eu acordava e achava que ia morrer jovem”, lembra.
A doença não é novidade para ela. Seus avós e um tio também tiveram diabetes tipo 2, mas a situação mais grave foi a de seu pai, falecido em 2007 em decorrência da doença. “Eu achava que a história iria se repetir comigo, o que me deixou muito mal no início. Depois, com mais calma, conheci outras pessoas que passaram pela mesma situação”. E a história não se repetiu. A mãe de Beatriz, Laudiceia Lima, também é diabética e hoje as duas se ajudam para controlar os sintomas. “Logo que ela descobriu a doença iniciou a medicação oral. Hoje em dia tomamos o mesmo remédio, mas em doses diferentes, e seguimos uma alimentação idêntica. Confesso que minha mãe faz mais exercícios do que eu. Ela tem um condicionamento físico invejável!”, elogia.
Beatriz também sofreu na pele o preconceito por causa da doença. “Um parente distante veio me perguntar como estava minha saúde. Respondi que estava bem, que o pior já tinha passado e que minha glicemia estava controlada. Ele respondeu que o diabetes progride e que o futuro seria cegueira e amputação. Fiquei revoltada diante da ignorância e falta de empatia! Confesso que levei alguns dias para superar esse papo”.
Com novos hábitos, a jovem deixou o medo de lado. Além do uso de medicamentos, ela cuida da própria alimentação com ingredientes diet. Pasmem: se antes nem arroz Beatriz sabia fazer, hoje ela “brinca” ao elaborar diversas receitas. “Sempre fui louca por doces e assim que saí do hospital todo mundo me falava que eu nunca mais poderia comer coisas gostosas. Eu parei e pensei que deveria investir em produtos com zero açúcar. Então comecei a pesquisar receitas na internet e passei a experimentá-las”. Ela ainda aconselha outras pessoas que passam pela mesma situação: “Não se desespere! O diabetes não é uma sentença de morte. Com disciplina, informação e força de vontade é possível viver bem. É um grande aprendizado!”, avisa.
GLICEMIA: Entenda o “bicho de 7 cabeças” do diabetes
Conversamos com o médico Marcelo Tinoco, especialista em endocrinologia e metabologia, para desmitificar aquela que pode ser a melhor amiga ou a grande vilã da vida dos diabéticos, a glicemia. Confira!
Glicemia é o índice de glicose presente no sangue. Este número está diretamente relacionado à insulina produzida no pâncreas e também à alimentação do indivíduo, ou seja, quanto mais carboidratos consumimos, maior será nosso índice glicêmico. Sendo assim, o consumo elevado de alimentos ricos em carboidratos aumenta consideravelmente as taxas de glicemia.
Dr. Marcelo explica que, em pessoas saudáveis, o pâncreas sozinho é capaz de compensar toda esta glicose, fazendo com que ela seja consumida pelas células. O diabetes se dá quando o órgão não consegue aumentar a produção de insulina e, consequentemente, não tem capacidade de sintetizar esse excesso.
O monitoramento ideal deste índice é chamado de glicemia de jejum, cujo resultado pode variar de acordo com os seguintes critérios:
- Normal: Abaixo de 99 mg/dL
- Intolerância à glicose: jejum de 100 a 125 mg/dL; 2 horas após 75g de glicose: de 140 a 199 mg/dL
- Diabetes mellitus: jejum maior que 126 mg/dL; 2 horas após 75g de glicose: maior que 200 mg/dL
O que é automonitorização e por que isso é importante?
Segundo Dr. Marcelo Tinoco, o diabético desempenha um papel central em seu próprio tratamento, através de sua dieta, a prática de exercícios, o uso correto das medicações e a automonitorização glicêmica.
A automonitorização glicêmica consiste na prática do paciente medir sua própria glicemia regularmente, através de fitas e/ou aparelhos de uso doméstico. Esta medição garante um maior controle da doença. Esta é considerada uma das melhores maneiras de determinar o sucesso do tratamento do diabetes. Isto acontece porque, se a glicemia estiver controlada, a vida de quem convive com a doença estará dentro do considerado normal e saudável por médicos especialistas.
Existem diferentes tipos de taxas de glicemia. Dr. Marcelo explica os dois principais e mais preocupantes deles:
Hiperglicemia
O prefixo “hiper” define o excesso de glicose no sangue, ou seja, caso o resultado de sua medição esteja acima de 99 mg/dL, já se caracteriza como um quadro de hiperglicemia. Esta elevação acontece, geralmente, quando o tratamento não é suficiente para controlar o diabetes.
Causas da hiperglicemia:
- Administração de medicamento doses insuficientes
- Abusos alimentares (doces, álcool, carboidratos)
- Medicação inadequada
- Gripe e infecções em geral
- Doenças endócrinas (hipertireoidismo, obesidade, excesso de cortisol no sangue)
Hipoglicemia
A hipoglicemia é o extremo oposto. Caracteriza-se pelo baixo índice de glicose no sangue, inferior a 70 mg/dL. O principal problema resulta do fornecimento inadequado de glicose para o sistema nervoso central, provocando a alteração de sua função.
Causas da hipoglicemia:
- Medicação em excesso
- Aumento de atividade física ou exercícios físicos não previstos
- Jejum ou alimentação insuficiente, mantendo a medicação
- Vômitos ou diarreia, também mantendo a medicação
- Produção excessiva de insulina
- Erro inato do metabolismo
- Consumo de bebidas alcoólicas
- Deficiências hormonais
- Alterações do metabolismo associadas à infecção e falência de órgãos
Vale ressaltar que fatores psicológicos também podem afetar sua glicemia! Portanto, mesmo seguindo todas as recomendações à risca, estresse, preocupações e ansiedade podem influenciar diretamente suas taxas!
Dr. Fadlo Freige Filho é presidente da Associação Nacional de Atenção ao Diabetes (ANAD) e professor titular de endocrinologia da Faculdade de Medicina da Fundação do ABC. CRM/SP 13986
Dr. Marcelo Tinoco é médico titulado em endocrinologia e metabologia pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM). CRM/RJ 52.58085-2
Marcos Vinícius é Personal Trainer e Professor de Educação Física. CREF 022051-G/RS