Muitas crianças na pré-escola criam os famosos amigos imaginários e insistem em inseri-los em sua realidade. Mas mesmo com tal insistência, os pequenos são capazes de admitir que a figura imaginada não existe de fato. Trata-se, portanto, de uma situação normal. A forma que os amigos imaginários são assumidos costuma refletir as preocupações e ansiedades da criança.
“Acredita-se que cerca de até 65% das crianças de 7 anos passem por esse tipo de experiência com amigos imaginários. Amigos imaginários parecem servir a vários propósitos normativos, incluindo companhia e amizade. Um amigo imaginário pode oferecer proteção psicológica à criança de suas preocupações, assumindo poderes mágicos, ou mesmo sucumbindo a perigos no lugar da criança”, explica a psiquiatra Ana Cláudia Ducati.
Amigo imaginário pode se relacionar com transtornos psiquiátricos em casos raros
Segundo a médica, a presença de amigos imaginários não caracteriza um distúrbio psicológico, mesmo tendo em vista que nas crianças com menos de cinco anos a fronteira entre o real e a fantasia ainda seja muitas vezes mais fluida. Entretanto, existem doenças psiquiátricas não relacionadas à presença de amigos imaginários, como a esquizofrenia, nas quais a fronteira entre o real e a fantasia está de fato alterada.
“Estas doenças seriam as psicoses, caracterizadas pela presença de alucinações e delírios, nos quais a criança de fato acredita na existência do amigo imaginário, não sendo possível convencê-la do contrário. Muitas vezes, a distinção entre uma alucinação real e um fenômeno subjetivo normal, como um amigo imaginário, pode ser difícil em crianças muito novas”.
Buscando ajuda profissional
Para saber se uma criança com amigo imaginário tem ou não uma dificuldade maior que a esperada em distinguir o real da fantasia, deve-se consultar um psiquiatra infantil. “Em resumo: uma criança com amigo imaginário não é motivo de preocupação, pois tal criação faz parte do desenvolvimento normal. Todavia, se houver uma dificuldade maior que a esperada em distinguir realidade e fantasia, isso pode ser um sinal de transtornos psiquiátricos. Daí surge a necessidade de entrar em contato com um profissional especializado”.
Dra Ana Claudia Ducati Dabronzo é psiquiatra geral e da infância e adolescência, formada pela Universidade de São Paulo (USP). CRM: 150.562
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