
Dr. Miguel Angelo Boarati
Psiquiatria
Biografia
Dr. Miguel Angelo Boarati é médico psiquiatra da infância e adolescência, formado pela Faculdade de Medicina da USP – Ribeirão Preto e com especialização em Psiquiatria da Infância e Adolescência pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Atuou como supervisor de médicos residentes em Psiquiatria da Infância e Adolescência de 2006 a 2016 no Instituto de Psiquiatria do HCFMUSP e atualmente é médico Colaborador do Programa de Transtornos Afetivos na Infância e Adolescência (PRATA) do IPq-HCFMUSP. É autor de vários livros e capítulos na área de Psiquiatria da Infância e Adolescência e temas gerais em Psiquiatria, como dependência química, sexualidade, psiquiatria forense e transtornos do humor.
Artigos
É possível demonstrar sinais de esquizofrenia já na infância?
A esquizofrenia é um distúrbio grave e incapacitante por toda a vida que raramente ocorre antes da adolescência e acima dos 50 anos, por mais que desde cedo estes já tenham propensão a desenvolvê-lo. Contudo, em casos raros o transtorno pode já se manifestar em crianças. De acordo com o psiquiatra Miguel Boarati, apenas 1% dos casos da doença ocorre abaixo dos 13 anos de idade – saiba quais são os quatro tipos de esquizofrenia. Sintomas iniciais da esquizofrenia também podem ser de outras doenças Ainda conforme o médico, essa porcentagem é apenas um pouco maior nos adolescentes entre 13 e 17 anos. Como os pequenos não tem maturidade e autonomia suficientes para identificar sintomas e procurar ajuda, é essencial que os pais estejam atentos ao aparecimento de comportamentos suspeitos. Afinal, só assim poderá haver um diagnóstico precoce e, consequentemente, um tratamento com chances de sucesso. Alguns sintomas mais brandos e iniciais podem já dar indícios do desenvolvimento da doença. Falta de inclinação para interação social é um exemplo. Todavia, não dá para associá-lo imediatamente à esquizofrenia, pois este sinal também se relaciona a outras doenças. “Sintomas prodrômicos, ou seja, que ocorrem antes da doença se desenvolver, não podem ser considerados como exclusivos da esquizofrenia, pois também estão ligados à deficiência intelectual e autismo”. Autismo já foi confundido com a esquizofrenia Inclusive, o autismo por vezes é confundido com esquizofrenia, conforme explica Miguel. “O termo autismo foi primeiramente utilizado para designar a esquizofrenia em estágio inicial na infância, mas hoje é utilizado apenas para os quadros de esquizofrenia mesmo. Demorou alguns anos de estudos para ocorrer a diferenciação clínica entre quadros de autismo de baixo funcionamento e esquizofrenia”. Diante de mudanças de comportamento como vivências alucinatórias (ouvir vozes e ver vultos), medos infundados, pensamentos delirantes, isolamento social e embotamento afetivo, é fundamental que a criança seja levada para avaliação médica. “Além do investimento financeiro e emocional, é importante que pais, professores, familiares e a sociedade como um todo busquem informações que reduzam o estigma e o preconceito”. Foto: Shutterstock
Quais as principais manifestações físicas da ansiedade?
Apesar da ansiedade ser uma sensação normal que todas as pessoas eventualmente experimentam, ela pode se tornar um distúrbio que exige tratamento específico e que pode provocar diversas manifestações físicas. “Sudorese fria, taquicardia, tremores de extremidade, tonturas e vertigens, falta de ar, sensação eminente de morte ou de que a pessoa terá um ataque cardíaco, são alguns dos sintomas físicos associados à ansiedade”, exemplifica o psiquiatra Miguel Angelo Boarati. Perigos da ansiedade com sintomas físicos Todas essas reações físicas ocorrem porque o cérebro entende que aquela situação ansiogênica exige uma reação rápida de luta ou fuga. O médico destaca que a ansiedade também é uma reação de “alerta exagerada”, mas que se inicia frente a uma situação que não ofereceria perigo ao indivíduo. “Seria como um alarme do carro que dispara espontaneamente”. Um quadro de ansiedade com esses sintomas físicos pode representar perigo em duas situações: quando ele se agravar a cada crise e quando estiver sendo desenvolvida alguma doença orgânica, como um ataque cardíaco, por exemplo. “Neste caso, se os familiares, profissionais de saúde e o próprio paciente não buscarem o serviço médico de urgência, a situação irá se agravar”, alerta Dr. Miguel. É importante apontar, no entanto, que a ansiedade pode se manifestar de formas mais brandas, a chamada ansiedade leve e moderada, que não traz tantos sintomas físicos para além da agitação e dificuldade de concentração, e que pode ser controlada com calmantes fitoterápicos para os momentos de crise, com muito menos riscos de efeitos adversos, e terapia. Procurando tratamento para ansiedade Recomenda-se que o paciente procure o serviço de emergência médica e, se todos os exames físicos e laboratoriais não evidenciarem nenhuma alteração, ele poderá buscar melhora com medicamentos. “Substâncias com ação ansiolítica, como os calmantes (também chamados de benzodiazepínicos), são boas opções. É importante que o paciente procure um tratamento adequado, pois é comum que essas crises de ansiedade possam se repetir e se intensificar ao longo do tempo”. O tratamento mais indicado para o transtorno de ansiedade é a combinação entre medicação e psicoterapia. “Os antidepressivos chamados inibidores da recaptura de serotonina, como fluoxetina e sertralina, são os remédios mais recomendados. As abordagens de psicoterapia mais utilizadas e que apresentam melhores respostas são as comportamentais e cognitivo-comportamentais, que trabalham exposição e dessensibilização aos eventos desencadeantes das crises e também modificação de pensamentos disfuncionais”. Foto: Shutterstock
Organizar as coisas por cores pode ser um sintoma de TOC?
Por mais que a mania de organização muitas vezes seja imediatamente interpretada como transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), ter esse comportamento não quer dizer necessariamente que alguém sofre desse transtorno. Para que o TOC seja diagnosticado, é preciso que uma obsessão seja acompanhada de uma compulsão equivalente. Mania de organização pode não indicar TOC mesmo sendo obsessão “Organizar as coisas por cores é sinal de que uma pessoa é organizada ou, no máximo, possui traços anancásticos ou obsessivos. Isso seria um traço de personalidade”, afirma o psiquiatra Miguel Angelo Boarati. Ou seja, mesmo que esse forte desejo por arrumação seja considerado uma obsessão, não se falará em TOC caso uma compulsão não se desenvolva em sequência. A mania por arrumação pode até ser exagerada no ponto de se pensar em procurar uma ajuda para ficar mais flexível e viver mais relaxado, mas ainda assim não é necessariamente um sintoma de TOC. “Quando a organização tem uma função precisa e necessária, pode ser até desejável. O problema é quando ela foge do controle. Aí pode ser um indício que precise ser melhor explorado”. Características que determinam o diagnóstico de TOC O TOC envolve a presença de pensamentos intrusivos de ordem, limpeza, autorregras que a pessoa não consegue controlar, por mais que tente. A partir daí ela desenvolve rituais para eliminar esses pensamentos. Normalmente são pensamentos sem função ou que geram muito sofrimento e gasto de tempo. “Para que haja de fato o TOC, devem estar em jogo pensamentos e atos mentais intrusivos (obsessões) que a pessoa não consegue controlar e que levam ela a ter comportamentos compulsivos para aliviar as obsessões. São comportamentos variáveis e que vão em um crescente ao longo dos anos, passando a fazer parte da vida da pessoa (ela gasta muito tempo do seu dia nos rituais)”, esclarece o especialista. Foto: Shutterstock
Depressão: como fazer para o término de um relacionamento não te abalar?
O término de um relacionamento, seja ele namoro ou até mesmo um casamento, normalmente gera sentimentos de tristeza e frustração nas pessoas envolvidas, podendo, em alguns casos, desenvolver até mesmo uma depressão. Quando este caso mais sério ocorre, diz-se que o término funciona como um “gatilho” para “despertar” os sintomas depressivos no indivíduo. Para evitar que isso aconteça, é importante buscar manter o psicológico bem estruturado. Sentimento de perda e luto é normal em todo término de relacionamento “O término de um relacionamento não deverá necessariamente causar um abalo psicológico. Graus razoáveis de satisfação e maturidade das pessoas envolvidas, boa qualidade da relação e percepção de que a mesma finalizou permitem um bom término. Mas existem situações em que o relacionamento é pautado em abusos, dependência, fragilidade emocional e outros fatores que podem fazer com que um término cause sérios abalos psicológicos”, afirma o psiquiatra Miguel Angelo Boarati. O sentimento de perda e luto normalmente se fará presente mesmo em situações de maturidade, pois são reações normais, saudáveis e autolimitadas. Passam com o tempo. “Quando se busca viver relacionamentos saudáveis, em que ambos os integrantes estão satisfeitos, não abrem mão de sua individualidade e têm maturidade para lidar com o término, este processo de separação não resulta em um quadro depressivo, apenas no luto inicial considerado normal”. Depressão após término deve ser tratada com ajuda de especialistas A depressão tende a ocorrer mais em pessoas que desenvolvem relacionamentos tóxicos ou de muito dependência, exigindo a busca por ajuda especializada (psicológica ou psiquiátrica). “Quando não há essa busca, existe a possibilidade da pessoa não se recuperar ou se envolver em um novo relacionamento com o mesmo padrão de funcionamento”. O especialista deverá ajudar o paciente a se conhecer e a trabalhar seus sentimentos de dependência em relação ao outro. Ele é indicado em casos de término seguido de depressão ou não. “Nos casos mais graves, em que surge a depressão, pode ser necessário o tratamento com antidepressivos para a remissão dos sintomas e recuperação clínica. Mas a psicoterapia também é essencial nesse processo”. Quando pensar em depressão? Tristeza não é sinônimo de depressão. O episódio depressivo se caracteriza pela presença, por pelo menos 2 semanas consecutivas, de 5 das 9 manifestações a seguir, ocorrendo na maior parte do dia, quase todos os dias; obrigatoriamente uma das manifestações deve ser humor deprimido ou perda do prazer em atividades: – Humor deprimido: sentir-se triste, sem esperança; isso pode ser percebido por outras pessoas; – Diminuição ou perda do prazer em atividades: menor interesse em passatempos ou em atividades que anteriormente o indivíduo considerava prazerosas; o individuo muitas vezes fica mais retraído socialmente; – Inquietação ou estar mais lento que seu habitual, e isso é percebido por outras pessoas; – Alteração de apetite e/ou de peso: pode ser para mais ou para menos, ou seja, pode ocorrer (de forma não intencional) aumento de apetite, aumento de peso, redução de peso, redução de apetite (exemplo: o indivíduo precisa se esforçar para se alimentar); – Alteração do sono: excesso de sono ou insônia; – Fadiga ou falta de energia: cansaço mesmo sem esforço físico pode ser relatado pelo indivíduo, bem como dificuldade em realizar tarefas; – Sentimentos de inutilidade ou de culpa excessiva ou inapropriada: o indivíduo pode, por exemplo, ficar ruminando pequenos fracassos do passado; – Dificuldade de se concentrar ou de pensar: os indivíduos podem se queixar de dificuldades de memória; – Pensamentos de morte ou planejamento para cometer suicídio. Tais alterações representam mudança em relação ao funcionamento anterior do indivíduo, e causam sofrimento e/ou prejuízos no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. Lembre-se: depressão não é só no setembro amarelo! Se você sentir que está diferente do seu habitual ou notar diferença em alguém com quem convive, procure ou oriente a procura de ajuda médica e psicológica! Este material tem caráter meramente informativo e não tem a intenção de substituir avaliação ou conduta médica. Siga sempre as orientações de seu médico assistente. Foto: Shutterstock
Depressão sazonal: essa doença pode se manifestar no verão?
A depressão sazonal ganha este nome quando o transtorno se manifesta em uma estação específica do ano. O conceito de depressão sazonal se relaciona mais ao inverno, pois os fatores externos nesta época do ano de fato geram efeitos que favorecem o desenvolvimento do quadro. Mesmo assim, esse tipo de depressão também pode ocorrer nas demais estações. Mesmo podendo ocorrer no verão, depressão sazonal é mais comum no inverno “A depressão sazonal ocorre em diferentes épocas do ano e é influenciada por fatores exógenos (quantidade de luz e calor) e fatores endógenos (predisposição genética). Ela pode sim ocorrer no verão, mas não com muita frequência. Quando acontece, está mais relacionada a fatores intrínsecos (do próprio indivíduo) do que ambientais”, informa o psiquiatra Miguel Angelo Boarati. Segundo o especialista, o verão não é uma época do ano tão propensa à depressão sazonal, pois conta com maior quantidade de horas de luz, calor e possibilidade de atividades agradáveis ao ar livre. “Já no inverno dos países do hemisfério norte, com frio mais rigoroso e menor quantidade diária de luz, a depressão sazonal ocorre com frequência significativamente maior”, afirma. Presença de luz solar possui grande influência na depressão sazonal Um dos motivos para a depressão sazonal ser bastante associada ao inverno é a menor incidência de luz solar nesta época do ano. Além disso, é comum que no inverno ocorra diminuição da interação social e de práticas externas prazerosas, pelo fato do clima desestimular atividades fora de casa. “No inverno, há semanas e meses de frio e chuva, o que resulta na permanência em locais fechados. Com isso, as pessoas acabam fazendo poucas atividades coletivas e prazerosas”, explica Boarati. De acordo com o médico, a luz do sol é tão importante nesse contexto de depressão sazonal que, em países nórdicos, onde o inverno é muito rigoroso e com poucas horas de luz por dia durante muitos meses, é feito tratamento com fototerapia, ou seja, luzes internas que reproduzem a luz solar. Foto: Shutterstock
Quais são as características da mania no transtorno afetivo bipolar?
O transtorno bipolar é caracterizado pela presença de duas fases opostas, a mania e a depressão. A segunda, mais comumente conhecida, consiste em um estado de tristeza, prostração, desesperança e desânimo. Por outro lado, a mania é um estado de euforia exacerbada. A mudança de humor característica do quadro costuma ocorrer de forma alternada. Características da mania “O estado de mania se caracteriza por uma mudança abrupta no humor, o qual subitamente se torna expansivo, elevado ou irritado. É importante que haja outros sintomas, como sentimento de grandiosidade e poder, redução da necessidade do sono, aumento da atividade física (fazer várias coisas) e mental (ter mais ideias, pensamentos), para definir a mania”, aponta o psiquiatra Miguel Angelo Boarati. Segundo o especialista, na mania o indivíduo começa a se dedicar a atividades prazerosas sem medir consequência dos riscos (ex: envolve-se com pessoas perigosas, gasta mais do que pode e briga por quaisquer motivos). “Em casos extremos, ocorre perda da capacidade de julgamento crítico e sintomas psicóticos, como delírio de poder. O tempo mínimo com esses sintomas é de até uma semana, depois se torna necessária a internação psiquiátrica”. Riscos das fases mania e depressão do transtorno bipolar É na fase de mania que o paciente costuma tomar as atitudes de maior gravidade, em diferentes esferas (social, familiar, profissional). “A vida do indivíduo poderá ir para um colapso a cada crise de mania. Ele vai piorando mais e mais e pode até mesmo manter algumas sequelas emocionais e cognitivas quando for para a crise seguinte”. Tanto a fase mania quanto a depressão são, de acordo com o psiquiatra, bastante graves, assim como o transtorno bipolar como um todo. “Na fase de depressão (polo oposto da mania), o paciente apresenta pensamentos mórbidos, tristeza, lentidão dos pensamentos e da capacidade de resolver problemas. Durante a depressão ou fase mista (mistura de mania e depressão), o paciente pode cometer suicídio”. Foto: Shutterstock