A obesidade é hoje uma das doenças mais preocupantes no Brasil: segundo pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde em 2015, 17,9% da população é obesa, índice que se manteve estável nos últimos anos. Os riscos do aumento exagerado do peso vão além da estética, podendo desencadear doenças crônicas, cardíacas e respiratórias.
Mas, afinal, como tratar a obesidade? Alimentação saudável, exercícios físicos e avaliações médicas são recomendações básicas para quem deseja cuidar da saúde, principalmente se a sua questão é o emagrecimento. Também é preciso analisar suas causas. Hoje sabemos que fatores como ansiedade, depressão, compulsão e sedentarismo são grandes influenciadores da doença, revelando a importância do aspecto psicológico da obesidade. Por isso, mais do que falar sobre dietas e tratamentos, vamos também conversar com pessoas reais: o administrador de empresas Zeka Blak, a promotora de eventos Márcia Vieira e a publicitária Carolina Medina. Pessoas diferentes, todas tiveram problemas com seu peso, mas cada uma lidou com a questão de uma forma. Eles contam suas histórias e a psicóloga Giselle Mendonça fala um pouquinho sobre o caso cada um deles para a gente entender um pouco mais sobre isso. Vamos lá?
De bonachão a triatleta
José Paulo Blak, conhecido como Zeka Blak, é um atleta de triatlo e se alimenta de forma equilibrada. Mas até dois anos atrás sua vida era bem diferente. Em 2014, o administrador de empresas chegou a pesar 125kg. Após ver o pai falecer por problemas de coração, Zeka resolveu mudar seus hábitos. “Meu pai era obeso e depois de sua morte comecei a pensar mais seriamente na vida. Para voltar à ativa, arrumei um personal trainer para fazer treinamento funcional. Foram 6 meses assim, até começar uma dieta e voltar a dar umas pedaladas. Minha alimentação é controlada de maneira moderada. Quando se faz exercícios fortes, a balança deixa de ser o principal foco”, revela. A psicóloga Giselle Mendonça conta que a história de Zeka poderia ter sido outra. “Zeka poderia desencadear uma depressão devido à morte do pai e, consequentemente, aumentar sua compulsão alimentar por não ter motivação e autoestima para tentar emagrecer. Porém, sua personalidade, o apoio da família e até medo de passar pelos mesmos problemas do pai fizeram com que ele seguisse outro caminho, trabalhando com seus pensamentos, comportamentos e emoções voltados para a perda de peso”.
Com 88kg e orgulhoso por ter apenas 13% de gordura corporal, o Zeka de hoje é outra pessoa, e ele se considera sortudo pelo apoio familiar. “Minha esposa entrou nessa comigo e perdeu muitos quilos. Treino cerca de 300km de pedal, 25km de corrida e 6km de natação por semana”, e ainda avalia: “O Zeka antes era um relaxado saudosista, comilão e cansado. Hoje, ele é esperançoso saudável e bem-disposto”.
Bariátrica não é a cura milagrosa que muitos acham
A carioca Márcia Vieira tomou uma decisão mais radical em comparação a Zeka Blak. Em 2010, a promotora de eventos resolveu dar um basta aos quilos extras e realizou a temida cirurgia bariátrica (também conhecida como cirurgia de redução de estômago). Márcia já estava cansada do vai e vem das dietas mirabolantes que não atingiam os resultados esperados. “Não falei nada com ninguém, fui às palestras para conhecer os procedimentos, os médicos e depois fiz os exames. Só contei para minha família porque uma das consultas era com uma psicóloga, e tínhamos que levar um familiar para se responsabilizar”, conta.
Na época, Márcia pesava 127kg e chegou a emagrecer 50kg. Mesmo com algumas complicações pós-cirúrgicas, ela não se arrependeu de ter realizado o procedimento. “É um grande sacrifício, no início eu vomitava tudo, sentia enjoos. O lado bom é que descobri ossos que não sabia onde estavam, e também pude comprar roupas menores e achar para meu tamanho”.
Aos 52 anos, Márcia revela que deixou de lado os cuidados necessários e gostaria de retomar a disciplina. “Nos últimos tempos abusei e engordei. Sei que preciso manter a alimentação adequada, mas como trabalho em casa de festas, são bolinhos, docinhos e salgadinhos todos os dias, é uma tentação”.
A psicóloga Giselle Mendonça diz que é preciso tomar muito cuidado nestes casos. “Vários fatores fazem o paciente que fez uma cirurgia bariátrica voltar a engordar. Vai depender de cada pessoa e do modo de vida de cada um. A pessoa precisa mudar seu estilo de vida para isso não acontecer. Entre alguns fatores, estão a falta de atividade física, hábitos errados na alimentação e problemas relacionados ao fator emocional que podem surgir com o tempo e com a situação na qual a pessoa se encontra no momento.”
“Me aceito do jeito que sou”, diz Carolina Medina
E quando a obesidade não é um problema? Há muito tempo a publicitária Carolina Medina não se preocupa com os comentários sobre seus quilinhos a mais. Na adolescência, a jovem de 29 anos tentou se moldar ao padrão de beleza imposto pela sociedade, até chegar a conclusão de que sentia confortável com seus 94kg. “Na época da escola queria parecer com a maioria das meninas, mesmo assim eu respondia aos bullyings, achando e apontando alguma coisa diferente em quem estava me ofendendo. Isso passou e hoje posso dizer que os valores da minha família me ajudaram a ter confiança, respeito e amor próprio”, conta.
Engana-se quem pensa que Carolina não cuida da saúde. Adepta da caminhada, ela também rege uma alimentação calculada. “Procuro balancear o cardápio com legumes, saladas, e alguns itens integrais, mas não deixo de ter meus dias de guloseimas. Para manter a forma, a publicitária, que também é modelo plus size nas horas vagas, passa por avaliações periódicas. “Faço exames de check-up todo ano e meus resultados são normais. Quando seus quilos a mais afetam sua saúde não é uma questão de aceitação ou autoestima, e sim de cuidados. Nesse ponto não tem questionamento”.
“Cada pessoa lida de uma forma com o excesso de peso. Há pessoas que podem apenas demonstrar que não se importam, e isso pode ser um tipo de fuga. Mas se os quilinhos a mais não a incomodam, o importante é realmente fazer essas avaliações periódicas para cuidar da saúde e não desenvolver uma doença relacionada, como um problema no coração, diabetes, hipertensão e outras, no futuro”, explica a psicóloga Giselle Mendonça.
Carolina conta que o lado ruim com o qual teve que se acostumar por causa dos quilos a mais foram as restrições com o figurino. “O maior problema que já enfrentei foi comprar roupas nas lojas, muitas vezes não encontrava do meu tamanho”.
Hoje, ela é feliz com seu corpo: “Não tenho problema ou mágoa. Utilizei disso tudo para me fortalecer, me aceito do jeito que sou.”
É isso aí, Carol! O importante vai muito além do que é considerado padrão. Ter saúde e ser feliz é o foco, e para isso todos nós devemos nos perceber mais e seguir menos, encontrando nossos próprios caminhos, mesmo que eles nunca tenham sido trilhados antes!