Num mundo regido pelo corre-corre e por estímulos externos, é comum estarmos demasiadamente ocupados, sem energia e confusos em desempenhar tantos papéis. Nessa toada, ficamos cegos, surdos e mudos sobre o que acontece dentro de nós e só prestamos atenção quando algo vai mal – quando surge uma dor estranha, uma doença.
Então, passamos a responsabilidade do nosso corpo aos outros. Se você vai ao médico com a queixa de uma doença mas mal consegue relatar como é seu estado normal de saúde, algo vai mal. Se ainda carrega a expectativa de que uma consulta e alguns exames possam dar conta do recado que é, em primeiro lugar, seu, então algo tem que mudar mesmo.
Mas aí vem a boa notícia: é possível reencontrar as chaves do nosso corpo, tomar posse dele, habitá-lo e nele incorporar a vitalidade, a saúde e a autonomia. O caminho do autocuidado pode ser prazeroso e instigante quando descobrimos possibilidades até então inéditas. E, antes que você dê ouvidos a ele por mal, que tal começar a se conhecer em seu estado sadio, íntegro e equilibrado?
Todos os sentidos
“Para começar, faça uso dos cinco sentidos”, diz Katia Rubio, psicóloga e professora da Escola de Educação Física e Esportes da USP. O espelho pode ser parceiro no diálogo com o corpo, ajudando-nos a observar se há algo de diferente. Os sinais auditivos também falam.
Aliás, você já parou para ouvir sua respiração hoje? É através do contato com ela que conseguimos entrar na sintonia do corpo e sentir o que ele está falando através do ritmo corporal. “É nas pausas que conseguimos escutar o corpo, pois seu ritmo é diferente do ritmo do dia a dia. Por isso é importante se permitir quebrar a rotina para entrar em contato com o ritmo orgânico”, diz a terapeuta reichiana Flávia Ferretti, de São Paulo.
O tato é um aliado aguçado e íntimo. Comece a escanear o corpo para reconhecer o que está diferente, se está mais seco e áspero (pode estar desidratado) ou com algum relevo estranho que possa apontar algum nódulo. O exemplo mais famoso é a campanha de prevenção do câncer de mama, em que as mulheres se apalpam para perceber se há alteração nos seios.
Outro ponto interessante – você sabe qual seu cheiro natural? Que tal parar de esconder de vez em quando os odores naturais com todo tipo de perfume para enfim perceber como eles se distinguem durante o ciclo menstrual, por exemplo, ou se mudam quando você está nervosa? A ideia não é negligenciar a higiene pessoal, claro, mas incorporar ao dia a dia a investigação do funcionamento do que acontece no seu corpo. “É preciso conhecer a normalidade do corpo, ou seja, seu estado de saúde, para distinguir o que está desorganizado”, diz Kátia.
E nasce a corporalidade
De acordo com a antroposofia, ciência espiritual criada por Rudolf Steiner, a percepção da saúde e do próprio corpo começa na infância e forma a base de um adulto com boa estrutura física, intelectual e emocional.
Importante é o conhecimento do tato, o mais concreto do sentidos, desenvolvido nos primeiros sete anos de vida. “É por meio dele e das qualidades de força, textura, densidade e viscosidade que a criança percebe o mundo externo. Ele funciona como um sensor que define o limite do eu e do mundo”, afirma a consultora pedagógica Juliana Achcar.
O tempo é, sem dúvida, um bom aliado na tarefa de desvendar os sinais do corpo. A ação também. Quando algo o incomoda, a melhor coisa é confiar no que você está sentindo e tomar uma atitude. Bateu uma dor de cabeça? Hoje você experimenta um remédio e observa, amanhã tenta um chazinho e repouso e vê no que dá. “Isso o prepara para saber o que dá certo e o que não funciona, o ajuda a criar seu repertório corporal”, afirma Ricardo Lucas Pacheco, professor da faculdade de Educação Física e Esportes da Universidade Federal de Santa Catarina. Esse jogo de erro e acerto também acontece no consultório médico, com a diferença que você se fortalece ao praticar seus cuidados próprios.
Conheça-se
Estamos sempre interagindo e nos afetando com os fatores externos: o clima, o trânsito, o chefe, uma música. Não é novidade que as milenares tradições orientais, como a medicina chinesa e a ayurvédica, e algumas linhas modernas, como a bioenergética, entendem o corpo como um organismo vivo e inteiro, que adoece quando a energia deixa de fluir. Por isso exploram o autoconhecimento para lidar com a saúde de forma preventiva e integral, acreditam que é mais fácil, prático e barato preservar a saúde que tratar de doenças. Prescrevem banhos, massagens, dietas, atividades físicas e meditações.
As informações são do portal Vida Simples e a imagem do website Shutterstock.