
Dra. Licia Mota
Reumatologia
Biografia
Dra. Licia Mota possui graduação em Medicina pela Universidade de Brasília (1999), residência médica em Clínica Médica (2002) e Reumatologia (2004) na Universidade de Brasília e doutorado em Ciências Médicas pela Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília (2009). Atualmente, é orientadora do programa de pós-graduação em Ciências Médicas da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília (FMUnB) e médica reumatologista do Hospital Universitário de Brasília (HUB), além de coordenadora da Coorte Brasília de Artrite Reumatoide e da Comissão de Artrite Reumatoide da Sociedade Brasileira de Reumatologia e diretora científica da Sociedade de Reumatologia de Brasília.
Artigos
Osteoartrite: Como funciona a progressão da doença?
A osteoartrite é uma doença degenerativa que afeta as cartilagens ósseas e que prejudica as articulações do corpo. Caracterizada pela dor nas articulações, impossibilidade de fazer movimentos simples (como cruzar as pernas ou apontar), inchaço e dificuldade para se locomover, o problema pode evoluir com rapidez. Descubra mais sobre a progressão da osteoartrite. Sobrepeso e gênero podem ser decisivos para a progressão da osteoartrite De acordo com a Dra. Licia Mota, reumatologista, a progressão da osteoartrite pode ser muito variável e depende de diversos fatores, inclusive da causa da doença. “Depende se ela é um fenômeno primário ou secundário a outra doença, como doença inflamatória ou traumática, fatores genéticos e até do gênero. Dependendo da articulação, evolui diferente entre homens e mulheres. Também depende do peso corporal, pois sabemos que, nas articulações de carga, o peso corporal influencia muito a evolução da osteoartrite”, explica a médica. A especialista enfatiza ainda que o condicionamento muscular e as atividades físicas praticadas pelo paciente podem piorar os efeitos da doença: “A evolução depende do fortalecimento muscular do indivíduo e do tipo de atividade física que é exercida, se ocasiona ou não um trauma repetitivo”. É muito comum também que a osteoartrite surja em função da artrite reumatoide, outra doença articular. “Se é uma osteoartrite secundária da artrite reumatoide, ela depende da evolução da própria artrite”, esclarece a reumatologista. Tratamentos para a osteoartrite são diversos, conforme a causa da doença A osteoartrite não tem cura, mas existem tratamentos que podem aliviar os sintomas e trazer maior conforto para os pacientes. De acordo com Dra. Licia, esses tratamentos variam. “Nós podemos limitar a progressão do problema de algumas formas. Primeiro, se for uma doença secundária, tratar a causa primária”. Para isso, é possível recorrer a medicamentos, como os condroprotetores, que auxiliam na produção de cartilagem e da diminuição da degradação do colágeno. “Se for uma doença secundária a uma doença inflamatória como artrite reumatoide, gota ou espondiloartrite, o tratamento adequado dessa doença de base é o que vai modificar o curso da evolução”, esclarece a médica. Nestes casos, são indicados medicamentos, como anti-inflamatórios e analgésicos, e a fisioterapia. Outras soluções também podem ser adotadas dependendo do caso. “Ficar no peso ideal, fortalecer a musculatura que sustenta aquela articulação, com exercícios orientados e adequados para cada situação são exemplos. Em algumas situações, fazer a suplementação de ácido hialurônico intra-articular, sobretudo para o joelho e eventualmente para quadril”, cita a especialista. Em quadros mais graves, quando existe uma destruição muito grave da articulação, com dor e impotência funcional muito grande, uma das abordagens possíveis é a troca da articulação por uma prótese articular, o que é chamado de artroplastia. “Algumas vezes, é a única forma possível de tratar os sintomas e garantir funcionalidade e qualidade de vida ao paciente”, finaliza a médica.
O que são as articulações sinoviais?
As articulações – conhecidas popularmente como juntas – são estruturas que fazem a conexão entre os ossos. Mas, elas não são todas iguais: existem as articulações fibrosas, as cartilaginosas e as sinoviais. As articulações sinoviais, mais comuns, são as que ficam entre os ossos e garantem sua mobilidade, devido ao fato de serem compostas por cartilagem. Conheça um pouco mais sobre elas. Articulações sinoviais são as mais encontradas no corpo Segundo a reumatologista Licia Mota, o papel dessas articulações é articular os ossos. “São aquelas em que a superfície óssea é recoberta por uma cartilagem articular e que são unidas por ligamentos e revestidas por uma membrana chamada membrana sinovial. Essas articulações podem ser divididas completamente ou então incompletamente por um disco ou um menisco – como é o caso do joelho, por exemplo”, afirma a médica. Dra. Licia também esclarece que a capacidade de mobilidade dessas articulações depende de algumas condições. “O movimento dessas articulações vai depender da forma como essas superfícies entram em contato e dos meios que possam limitar esse contato. Elas são de grande importância porque as articulações sinoviais incluem a maior parte das articulações de todo o corpo”, explica a especialista. Traumas e doenças autoimunes podem prejudicar as sinoviais Assim como qualquer outra articulação, as articulações sinoviais também estão sujeitas à falhas, muitas vezes devido à alguma doença ou lesão, como assinala a médica: “Existem várias condições que podem afetar as articulações sinoviais: doenças mecânicas e degenerativas, como a própria osteoartrite, que é a situação em que há perda progressiva da cartilagem. Também podem ser afetadas por doenças traumáticas, como uma queda ou um acidente”. Outras doenças que também são motivo de dores e do mau funcionamento das articulações sinoviais podem ter outras origens. “Doenças inflamatórias ou autoimunes, como artrite reumatoide e espondiloartrites, são doenças em que acontece um processo inflamatório contra a sinóvia. Também pode haver inflamação por depósito de cristais como o ácido úrico, como é o caso da gota”, cita Dra. Licia.
Qual é a função da cartilagem presente nas articulações?
A cartilagem é um tipo de tecido conjuntivo, de coloração branca ou cinza, que não apresenta vasos sanguíneos e que pode ser encontrado na orelha e no nariz, por exemplo. Esse tecido também está presente junto aos ossos e exerce uma função essencial para a realização dos mais diversos movimentos corporais e para a locomoção do corpo. Sua função é oferecer proteção às articulações e aos ossos De acordo com a reumatologista Licia Mota, a cartilagem funciona como uma espécie de proteção às articulações ósseas. “Podemos imaginá-la, de uma forma bem simplificada, como uma camada de silicone ou de borracha que protege o contato de um osso com o outro”, afirma a especialista. A cartilagem reveste exteriormente as articulações, que são o ponto de contato entre os ossos. Essa proteção permite que os ossos se movimentem, durante um agachamento ou ao levantar as pernas e os braços, por exemplo, sem impacto. Sem a cartilagem, essa movimentação, que parece tão simples, poderia se tornar bastante dolorosa. Perda da cartilagem leva ao desenvolvimento de doenças É o que acontece nos casos de osteoartrite, problema que causa dor, rigidez e inchaço articular. “A passagem do tempo, atividades físicas de impacto, trabalho manual e algumas doenças específicas, como doenças inflamatórias, podem desgastar essa cartilagem, levando a um processo degenerativo, que é o que caracteriza a osteoartrite”, explica a médica. Segundo Dra. Licia, a melhor forma de proteger a cartilagem, a articulação e toda a estrutura óssea, é combater a causa dessa inflamação, ou seja, fazer o tratamento da osteoartrite, da gota, da artrite reumatoide ou de qualquer outra doença que está provocando a destruição da cartilagem, com o objetivo de frear o processo. Isso é feito com medicações, controle do peso corporal e atividades físicas sem impacto e que fortalecem os músculos. Foto: Shutterstock
Má postura pode gerar osteoartrite na coluna?
Osteoartrite de coluna é uma doença relativamente comum que pode estar relacionada a alguns fatores, o que inclui a má postura. Contudo, para que a má postura resulte na osteoartrite, ou seja, em um quadro degenerativo crônico da cartilagem, que põe em risco as articulações, é necessário que seja um hábito de repetição por um período de tempo considerável. Relação entre má postura e osteoartrite “A osteoartrite de coluna pode estar ligada ao processo degenerativo (o próprio envelhecimento); a doenças inflamatórias; a atividades de repetição que levam a traumas; a traumas mais graves, como acidentes, e, eventualmente, às más posturas mantidas cronicamente”, informa a reumatologista Licia Mota. Segundo a especialista, manter uma postura inadequada, sentar de forma inadequada, por exemplo, pode levar, com o tempo, a várias causas de dor osteomuscular, por sobrecarga de tendão, de músculo, e também – no longo prazo – por desgaste da cartilagem (osteoartrite). “Isso se aplica também ao uso de celulares e tablets, já que normalmente mantemos o pescoço em posição inadequada por muito tempo durante o uso desses aparelhos”, acrescenta a médica. Tratamento contra a osteoartrite de coluna Para controlar o problema são essenciais algumas medidas, como o controle do peso corporal (nas articulações de carga, como joelho, isso é muito importante) e fortalecimento da musculatura por meio de exercícios físicos, além de adotar posturas corretas, seja para sentar, trabalhar, usar computador e celular e também para dormir. Em paralelo, deve-se realizar o tratamento medicamentoso para frear o avanço da osteoartrite. “É válido ainda recorrer, se necessário, ao fisioterapeuta e ao terapeuta ocupacional, os quais são capazes de fazer um trabalho de reeducação postural importante com o paciente – por mais que muitas vezes isso seja difícil. Estes profissionais também podem dar dicas para fazer os movimentos do dia a dia da forma mais adequada (abaixar, pegar peso, se curvar, sentar, etc.)”, conclui a reumatologista. Foto: Shutterstock
Articulações estalando e crepitando são sempre sinal de osteoartrite?
A osteoartrite consiste no desgaste da cartilagem, o que põe em risco ossos e articulações. Nesse sentido, estalidos e crepitações podem ser interpretados com maior preocupação, como se fossem indícios do problema. A associação até pode ser feita em alguns casos, mas nem sempre, pois esses sinais também aparecem com certa frequência em pessoas que não sofrem com osteoartrite. Características dos estalidos e crepitações “Estalos e crepitações são coisas diferentes. O estalido é um som que pode acontecer quando ligamentos e tendões ao redor de uma articulação – como, por exemplo, o joelho – se esticam à medida que passam por uma proeminência óssea e depois se encaixam novamente, causando esse ruído. Isso também pode acontecer por contato de ossos”, informa a reumatologista Licia Mota. O estalido nem sempre é patológico, nem sempre representa doença. Ou seja, sua relação com a osteoartrite não é tão próxima. Já a crepitação é mais comum de ser sentida por pacientes que sofrem com a doença. “O som da crepitação é muito mais fino, mais sentido do que ouvido. É uma sensação de como se houvesse areia dentro da articulação”, explica a médica. Segundo a especialista, é bastante comum a interpretação da crepitação como sendo decorrente de uma “poeira” da cartilagem dentro da articulação. É como se pequenos pedaços de cartilagem ficassem soltos e com a movimentação da articulação a passagem desses pequenos pedaços leva à crepitação. “Isso tem a ver com a osteoartrite, que é a degeneração da cartilagem”, afirma Mota. Tratamento e prevenção da osteoartrite Para prevenir e tratar a osteoartrite é fundamental adotar as principais medidas indicadas no tratamento, como fortalecimento da musculatura no entorno das articulações e combate ao sobrepeso para proteger essas estruturas do impacto. Além disso, é primordial o tratamento medicamentoso, tendo em vista que os remédios ajudam a frear o processo de desgaste da cartilagem que define a doença. Foto: Shutterstock
Como é a sensação de atrito dos ossos em um quadro avançado de osteoartrite?
A osteoartrite é caracterizada pelo desgaste da cartilagem que protege as articulações que se manifesta com o envelhecimento do corpo. Segundo a Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR), de 30% a 50% dos pacientes por volta dos 75 anos sentem dores crônicas. Essas dores, em muitos casos, são provocadas pela sensação de atrito dos ossos ao se movimentarem, já que há pouca ou nenhuma proteção entre eles por causa da doença. Atrito dos ossos em casos de osteoartrite causa dor e ruídos A reumatologista Licia Mota explica como o paciente com osteoartrite se sente quando ocorre atrito entre os ossos: “Na hora que ele se movimenta, um osso passando sobre o outro causa a sensação de que existem fragmentos, como areia e pedrinhas soltas dentro da articulação. Muitas vezes, ele ouve o barulho das crepitações ou estalos e pode ter uma sensação de travamento ou instabilidade”. Quando esses fragmentos são grandes ou nos casos em que ocorre a ruptura de uma estrutura como o menisco, eles podem ficar presos dentro da articulação. “Isso pode levar a um movimento de falseio. O paciente sente como se a articulação falhasse. É uma sensação de travamento com dor intensa”, informa a especialista. Osteoartrite dificulta movimentação do paciente Esse forte incômodo causado pelo atrito dos ossos e também pela inflamação que a osteoartrite provoca pode atrapalhar a locomoção do paciente. “Na fase mais avançada da doença, o paciente pode ter dificuldade para se movimentar, tanto pela intensidade da dor quanto pela rigidez que apresenta. Existe uma incapacidade mecânica pelo grau de acometimento da articulação”, alerta a médica. Vale lembrar também que, com o tempo, a osteoartrite leva a um enfraquecimento da musculatura que sustenta a articulação. De acordo com a profissional, com o desuso, o músculo em volta da área afetada sofre um processo de atrofia, o que também agrava a dificuldade de movimentação do corpo. Dados da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR): https://www.reumatologia.org.br/doencas-reumaticas/osteoartrite-artrose/ Foto: Shutterstock