
Dra. Ana Claudia Ducati Dabronzo
Psiquiatria
Biografia
Dra. Ana Cláudia Ducati Dabronzo é psiquiatra, formada em medicina pela Universidade de São Paulo (USP). Fez Residência Médica em Psiquiatria no Instituto de Psiquiatria da USP e se sub-especializou em Psiquiatria da Infância e Adolescência pela mesma instituição. Atualmente atua como psiquiatra colaboradora no ambulatório de Transtornos Alimentares (ambulim) do Instituto de Psiquiatria (Ipq) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP).
Artigos
Autismo: o que os pais devem saber sobre o transtorno?
A primeira coisa que os pais de crianças com autismo devem saber é que o transtorno em questão se manifesta cedo, em geral antes da criança ingressar na escola, e que não tem cura. Mesmo assim, há tratamento e este é fundamental para que seu filho consiga desenvolver suas habilidades e, assim, ter uma melhor qualidade de vida. É essencial também saber que, por tratar-se de um espectro, o autismo apresenta casos extremamente graves e outros tão leves que o diagnóstico poderia até mesmo passar despercebido. Ou seja, é uma doença que se manifesta em diferentes intensidades, então os pais devem buscar o tratamento adequado para os sintomas específicos de seu filho (que pode, inclusive, ser medicamentoso). Características do autismo que os pais precisam saber “A criança com autismo apresenta prejuízos persistentes na comunicação social e na interação social em múltiplos contextos. Por exemplo, apresentam dificuldade para estabelecer uma conversa normal; para iniciar ou responder a interações sociais; para ajustar o comportamento e se adequar a contextos sociais diversos”, informa a psiquiatra Ana Cláudia Ducati. A especialista também aponta que é muito comum as crianças autistas não fazerem contato visual adequado, apresentarem movimentos repetitivos com as mãos ou movimentos de balanceio com o corpo. É frequente ainda a seletividade alimentar e uma adesão inflexível à rotina, o que pode levar a uma reação de ansiedade exagerada caso a rotina seja quebrada. Ter interesse sempre nas mesmas coisas também é algo muito comum. Por que é importante que os pais conheçam bem o autismo? “Conhecer o que é o Transtorno do Espectro Autista é fundamental para os pais, pois assim poderão entender quais são as necessidades de seus filhos e auxiliá-los da melhor maneira possível. Além disso, conseguirão de uma melhor forma adequar suas expectativas com seus filhos e compreender que qualquer evolução já um ganho. Muitos comportamentos da criança com autismo podem incomodar os pais, mas quanto mais entenderem que isso faz parte do diagnóstico, mais fácil será de aceitá-los”, completa a psiquiatra. Foto: Shutterstock
O TOC pode ser um sintoma da esquizofrenia?
As obsessões e a compulsões características do TOC podem ser, por vezes, incomuns, ao ponto de remeter a sintomas típicos da esquizofrenia, o que aproximaria os dois transtornos psicológicos. Contudo, um paciente com TOC tem a consciência de que sua obsessão não faz sentido (apenas não consegue controlá-la), diferentemente de um esquizofrênico. Portanto, não há uma ligação direta entre os quadros. Diferenças e semelhanças entre TOC e esquizofrenia “TOC e esquizofrenia são dois transtornos psiquiátricos diferentes, sendo que um não pode ser considerado sintoma do outro. O que podemos verificar é que no curso da esquizofrenia há a presença de sinais e sintomas que surgem antes do início da doença (pródromo). Em alguns casos de adolescentes, o início súbito de comportamento obsessivo-compulsivo foi considerado como sendo esse pródromo”, comenta a psiquiatra Ana Cláudia Ducati. Segundo a médica, o paciente com TOC pode não ter uma percepção plena de sua doença, o que geraria uma certa semelhança com a esquizofrenia. “Mas mesmo assim o TOC é distinto de um transtorno delirante ou psicótico, pois os indivíduos com TOC têm obsessões e compulsões, e não outras características da esquizofrenia, como por exemplo, alucinações e delírios”. Tratamento de TOC e esquizofrenia e comorbidade Para ambos os transtornos é indicado o uso de medicações psicotrópicas, assim como terapias psicossociais. “Para o TOC, a principal escolha são os antidepressivos. Em alguns casos, a associação com antipsicóticos mostrou-se eficaz para a redução de sintomas. Para a esquizofrenia, a principal escolha de psicofármacos são os antipsicóticos”, diferencia Ana Claudia. O TOC raramente ocorre sozinho, o que significa que muitas vezes coexiste com outro transtorno psicológico. “Contudo, ainda não é possível afirmar se o fenômeno da comorbidade ocorre pela coexistência de entidades diagnósticas distintas ou se é resultado da sobreposição de sintomas e síndromes. Segundo uma revisão científica, é estimado que cerca de 12% dos pacientes com esquizofrenia apresentam diagnóstico em comorbidade com o TOC”. Dra. Ana Claudia Ducati Dabronzo é psiquiatra geral e da infância e adolescência, formada pela Universidade de São Paulo (USP). CRM: 150.562 Foto: Shutterstock
Por que o TOC é conhecido como a doença da dúvida?
O TOC é conhecido como a doença da dúvida pois a dúvida patológica é um dos sintomas mais comuns do transtorno. Trata-se de uma obsessão que gera a compulsão de verificação. Por exemplo, se um paciente com TOC fica na dúvida se trancou a porta de casa antes de sair, ele checa se ela de fato está fechada diversas vezes por medo do risco de esquecê-la aberta. “A dúvida patológica é o segundo padrão de apresentação mais comum do TOC e pode ser o responsável pelo seu reconhecimento como a doença da dúvida”, explica a psiquiatra Ana Cláudia Ducati. “Esse pensamento repetitivo de dúvida que implica em algum perigo é seguido por um ritual de verificação no qual o indivíduo se envolve em múltiplas checagens”, acrescenta. Principais tratamentos de TOC Conforme conta a médica, há cada vez mais evidências de que os fatores biológicos apresentam grande impacto na determinação do TOC. Estudos mostram que existem três opções principais de tratamento: a farmacoterapia, a terapia comportamental e a combinação das duas. A decisão sobre qual terapia usar depende do julgamento e experiência médica, além da aceitação do paciente. “A farmacoterapia consiste no uso de remédios para restabelecer o equilíbrio de substâncias no cérebro. Já a terapia comportamental, tão efetiva quanto as farmacoterapias, envolve mudar o comportamento do paciente para se reduzir a disfunção e melhorar a qualidade de vida. Ambas são eficazes para uma redução significativa dos sintomas de TOC”. Outros sintomas de TOC além da dúvida Além da dúvida patológica, o TOC pode causar outros três tipos principais de sintomas: contaminação, pensamento intrusivo e simetria. “O padrão de contaminação consiste em um ritual de lavagem ou de evitar objetos contaminados, enquanto o pensamento intrusivo baseia-se em ideias repetitivas e indesejadas (obsessões). Já a simetria é caracterizada pela necessidade de simetria ou precisão e pode levar a rituais exaustivos para que um objeto fique em uma posição perfeita”. Dra Ana Claudia Ducati Dabronzo é psiquiatra geral e da infância e adolescência, formada pela Universidade de São Paulo (USP). CRM: 150.562 Foto: Shutterstock
Como se aproveitar do verão no combate contra a depressão?
Quando se fala em depressão e estações do ano, logo entra em questão o conceito de depressão sazonal, que é um tipo específico desse transtorno mental, muito relacionado, principalmente, ao inverno. Os menores níveis de luz solar nesta época do ano seriam a explicação para a formação de quadros depressivos. Como no verão ocorre o oposto, isso poderia ser um fator positivo para a saúde mental. “Dentre os tipos de depressão, existe aquele que recebe o nome sazonal justamente por ser um quadro depressivo que ocorre durante o inverno. Isso se deve ao fato da estação concentrar os meses mais escuros do ano, com menos tempo de luz. Em países de clima tropical, como a variação climática não é tão gritante, não observamos tanto esse tipo de quadro”, explica a psiquiatra Ana Cláudia Ducati. Férias, viagens e praia no verão podem ajudar no combate à depressão Embora não seja afirmado, é possível considerar o fato de que algumas atividades típicas do verão muitas vezes acabam sendo de alguma maneira protetoras contra a depressão. Isso porque o verão costuma coincidir com as férias e é uma estação propícia para passeios divertidos (praia, piscina, parques, bosques etc). “Durante o verão as pessoas costumam viajar mais, seja pelo período de festas no fim de ano, férias escolares, ou simplesmente para aproveitar o calor. O simples fato de darem uma pausa em suas rotinas estressantes já contribui para uma melhora do humor. Também podemos observar que, embora não de maneira generalizada, as demandas dentro das empresas tendem a ser menores”. Planos mais saudáveis para o novo ano são fundamentais para evitar e vencer a depressão O fato do verão ocorrer durante a virada do ano no Brasil (época em que as pessoas costumam renovar suas expectativas e fazer planos muitas vezes buscando um estilo de vida mais saudável), também é importante no combate à depressão, segundo a psiquiatra. “Melhorar a qualidade de vida com hábitos mais saudáveis contribui muito para a melhora de quadros depressivos”. Dra. Ana Claudia Ducati Dabronzo é psiquiatra geral e da infância e adolescência, formada pela Universidade de São Paulo (USP). CRM: 150.562 Foto: Shutterstock
Excesso de preguiça pode ser um sintoma da depressão?
A preguiça, mesmo em excesso, não pode ser caracterizada como um dos sintomas da depressão. Ela se manifesta de várias maneiras, como uma aversão ao trabalho, ócio, estado de prostração e moleza, falta de pressa ou de empenho. Contudo, é possível que em alguns casos os sintomas depressivos sejam interpretados como preguiça. “No quadro depressivo o paciente pode apresentar falta de energia ou fadiga, excesso de sonolência, falta de prazer ou perda do interesse por atividades, lentificação motora e redução da capacidade de se concentrar. Esses sintomas citados podem facilmente ser interpretados como preguiça”, afirma a psiquiatra Ana Cláudia Ducati. Quadro de depressão só deve ser definido quando há diversos sintomas envolvidos Quando esse comportamento preguiçoso é percebido, seja pela própria pessoa ou por seus entes queridos, e afeta significativamente a qualidade de vida do indivíduo, o recomendado é que ele busque ajuda especializada de um profissional capacitado. Contudo, para se estabelecer um quadro de depressão, é necessário que haja outros sintomas envolvidos. “O quadro depressivo é determinado pela presença de tristeza e/ou falta de interesse e prazer em atividades por pelo menos duas semanas. Outros sintomas comuns associados são: perda ou ganho significativo de peso sem estar fazendo dieta, alteração de apetite, insônia ou hipersonia quase todos os dias, fadiga ou perda de energia, sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva, redução da capacidade de concentração e pensamentos recorrentes de morte”, explica a médica. Família e amigos podem ajudar a perceber sinais de depressão semelhantes à preguiça Em muitos casos o indivíduo não percebe que pode estar deprimido e quem o mobiliza para o tratamento são os amigos e familiares que observam as mudanças. Por isso, a participação de terceiros tende a ser muito importante. “Quando os familiares e amigos fornecem suporte social adequado, o tratamento tem um melhor andamento, tanto pela melhor adesão do paciente, quanto pelo fornecimento de um ambiente com menos julgamento e preconceito com relação às doenças mentais”. Dra. Ana Claudia Ducati Dabronzo é psiquiatra geral e da infância e adolescência, formada pela Universidade de São Paulo (USP). CRM: 150.562 Foto: Shutterstock
Estourar plástico bolha sem controle pode ser considerado TOC?
Estourar plástico bolha é um hábito que muitas pessoas desenvolvem pelo seu efeito calmante e até mesmo prazeroso e é bastante descrito como algo viciante. A ação em si não pode ser considerada TOC, pois não é necessariamente uma compulsão. Para que um determinado comportamento possa estar associado ao transtorno, ele precisa ser identificado como uma compulsão, ou seja, atos ou pensamentos repetitivos feitos em resposta a uma obsessão. “Dentro do transtorno obsessivo-compulsivo temos o que chamamos de compulsões. Essas compulsões são definidas como comportamentos repetitivos ou atos mentais que um indivíduo se sente compelido a executar em resposta a um pensamento indesejado e recorrente, ou de acordo com regras que devem ser aplicadas rigidamente (obsessão)”, explica a psiquiatra Ana Cláudia Ducati. Estourar plástico bolha pode ser compulsão As compulsões têm por objetivo reduzir ou prevenir uma ansiedade, sofrimento, ou evitar de alguma maneira um evento ou situação temida. Esses comportamentos ou atos mentais não têm uma conexão real com o que visam neutralizar ou evitar e podem se basear em crenças irreais ou exageradas. Todavia, a médica aponta que estourar plástico bolha sem controle poderia ser considerado um comportamento compulsivo, caso ocorra com a finalidade de aliviar um pensamento indesejado ou inadequado, ou mesmo com o objetivo de neutralizar ou evitar uma situação temida. “Por exemplo, se eu não estourar 100 bolhas do plástico meus pais vão morrer”. Principais tipos de TOC Dentre os principais sintomas do TOC, destacam-se as obsessões e compulsões relacionadas a contaminação, com rituais de limpeza e lavagem; dúvida, com rituais de checagem; simetria, com necessidade de organizar objetos; e pensamentos invasivos desagradáveis, com rituais para afastar esses pensamentos. “Para tratamento do TOC, o ideal é que seja feita uma combinação de farmacoterapia e psicoterapia. A escolha da linha é baseada na experiência do médico e aceitação do paciente”. Dra. Ana Claudia Ducati Dabronzo é psiquiatra geral e da infância e adolescência, formada pela Universidade de São Paulo (USP). CRM: 150.562 Foto: Shutterstock